Alberto Tosi Rodrigues nasceu em Ibitinga, Estado de São Paulo. Formou-se em Ciências Sociais na UNESP de Araraquara, fez mestrado e doutorado em Ciência Política na UNICAMP e trabalhou como professor na Universidade Federal do Espírito Santo. Apesar de sua formação, Alberto nunca foi, de fato, um cientista político. Ele foi, sim, um filósofo político.
Escreveu e falou como quem queria não só “analisar a realidade social” ou “interpretar a realidade social”, mas como quem pensava na transformação do nosso Planeta. Alberto vivia não de utopia, mas de ilusão mesmo. Nisso, nos irmanávamos. Traduziu e publicou comigo, Paulo Ghiraldelli. Mas também publicou sozinho, livros e artigos. Três livros dele que precisam ser lidos: Brasil, de Fernando a Fernando (Editora Unijuí), Diretas Já! (Editora Fundação Perseu Abramo) e Sociologia da Educação (Editora DPA).
Sua escrita era fácil, agradável, altamente correta e precisa. Em suas aulas e livros não faltavam o humor e uma pitada de inteligência que revelavam um traço de genialidade. Mostravam também o caráter bondoso, generoso mesmo do Alberto, como escritor, intelectual e amigo. Tosi foi uma daquelas estrelas cadentes que vemos no céu e dizemos “que lindo!”, mas não conseguimos apreciar pois passam rapidamente. Foi aquela estrela que risca o céu negro. Um pequeno risco que ninguém mais vê, só quem estava prestando atenção. Mas quem viu, sabe que viu algo de Deus. Eu vi. Tive sorte.
Alberto comungava comigo a ideia do pragmatismo de que a verdade é algo do âmbito dos procedimentos. Temos uma de procedimentos para fazermos nossas investigações e escrevermos e falarmos, mas não é o caso de definir a verdade em uma fórmula ou frase. Essa ideia sobre a verdade, nos ajudou muito em nossas produções conjuntas. Podíamos divergir em tudo, mas continuávamos a escrever juntos porque sabíamos que estávamos afinando instrumentos, buscando melhorar nossos discursos e que só conseguiríamos fazer isso no trabalho coletivo.
Fiquei com vários textos e ideias de Alberto. Os textos, pretendo colocar para o público. As ideias, pretendo desenvolver. Tentarei ser justo com o Alberto. Mas se cometer algum deslize, algum esquecimento, ele irá me perdoar, como sempre fez. Se eu imaginar demais, esteja ele onde estiver, ele dirá: “ah, esse é o Paulinho, ele pode fazer isso”. Alberto sabia valorizar o que cada um tinha de bom, o que cada um tinha de defeito, ele deixava de lado.
A ideia de manter esse texto aqui é a de não deixar que Alberto Tosi abandone este mundo, como ele fez, tão jovem, aos 38 anos. Mas Alberto adorava pregar peças. Então, em 2003, abandonou o Planeta Terra. Talvez porque o Planeta estivesse medíocre, pequeno para caber um homem de 2.16 de altura. Não, na verdade, o Planeta não comportava mesmo era a cabeça do Alberto, muito grande para um lugar tão pequeno. Mas não creio que ele, na hora de ir embora, estivesse tão feliz. Mesmo sabendo que ia pregar uma peça em nós todos – que ficamos sem ele – o sabor de nos deixar pasmos era grande! Mas, ainda assim, era um sabor amargo. Pois Alberto amava a vida como ninguém. Vida simples; sim, mas vida.
Alberto nunca reclamou por estar doente e saber que ia nos deixar a qualquer momento. Conviveu com isso durante uma década. Operado várias vezes, fez o doutorado em circunstâncias difíceis, mas terminou e voltou para o magistério com produção maior do que muitos que tiveram saúde perfeita e bolsa de estudos.
Alberto, como intelectual, nos legou uma obra que pretendo não deixar cair no vazio. Como amigo, deixou a ideia principal da noção de amizade: a lealdade. Pena que alguns que dizem que exercem tal ideia não saibam o que é isso. Alberto sabia. Na hora difícil, foi um dos poucos amigos da Academia que soube me apoiar.
Hoje, que estou na ativa e com a estrela a meu favor, fico pensando: será que não é o Alberto, me empurrando, lá do outro mundo? Ah, qual nada, Alberto não acreditava em outro mundo. Mas agora quem vai pregar a peça sou eu. Vou mantê-lo neste mundo e, desta forma, colocá-lo no “outro mundo”, pois este mundo aqui tem sido seu outro mundo, desde o início de 2003.